20/12/2024 | Por: G1
seguro obrigatório para veículos vai voltar a ser cobrado a partir de janeiro de 2025 (Foto: Reprodução/TV Globo)
O Senado aprovou nesta
quinta-feira (19) um dos três projetos do pacote de corte de gastos do
governo federal para equilibrar as contas públicas. O texto segue para a
sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A proposta, aprovada por 72 votos
a favor e 1 contra, cria "gatilhos" para conter o crescimento
de benefícios fiscais e gastos com pessoal em caso de resultado
negativo nas contas públicas.
Além disso, a aprovação significa
que o Congresso revogou a recriação do DPVAT —
agora batizado de Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidente de
Trânsito (SPVAT).
O texto também autoriza o
congelamento de até 15% do montante destinado a emendas parlamentares não
impositivas, cujo pagamento não é obrigatório — e abre caminho para que o
governo use saldos de fundos nacionais para abater a dívida pública.
Dessa forma:
emendas individuais e de bancada
— de pagamento obrigatório — não poderão ser congeladas se o governo precisar
suspender despesas para cumprir o arcabouço fiscal, em um cenário de aumento de
gastos obrigatórios;
15% das emendas de comissão, que
o governo não tem a obrigação de pagar, poderão ser bloqueadas para cumprimento
da regra fiscal.
Além desse projeto, outras três
propostas foram encaminhadas pelo Ministério da Fazenda ao Congresso como parte
de um esforço para equilibrar as contas públicas. Com a totalidade das medidas,
o Planalto projeta economizar R$ 375 bilhões até 2030.
Freio nos gastos
De acordo com o texto, em caso de
déficit primário, ficará proibida a concessão, ampliação ou prorrogação de
incentivos ou benefícios tributários.
A medida será adotada no ano
seguinte ao que for registrado rombo nas contas do governo. E só poderá ser
interrompida quando houver superávit primário.
???? O déficit primário ocorre quando receitas
com tributos e impostos ficam abaixo das despesas do governo, sem considerar os
gastos com o pagamento de juros da dívida pública. Já o superávit primário
ocorre quando as receitas com impostos ficam acima das despesas – também
desconsiderando juros da dívida.
O resultado negativo nas contas
também será o estopim para acionar limites ao aumento de gastos do governo com
pessoal (salários e encargos sociais, por exemplo, de servidores ativos,
inativos e pensionistas).
???? Segundo a proposta, até 2030, estas despesas
não poderão ter crescimento superior ao piso de reajuste das despesas permitido
pelo arcabouço fiscal — 0,6% ao ano acima da inflação.
? Caso seja acionada, a medida vai afetar os Três
Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário —, Ministério Público, Defensoria
Pública, Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Tribunal de Contas da União
(TCU).
???? Não serão afetados, porém, aumentos
concedidos por ordem judicial.
???? Em caso de calamidade pública, as limitações
poderão ser desrespeitadas.
Os "gatilhos" para
frear benefícios tributários e gastos com pessoal também poderão ser acionados
quando houver, a partir de 2027, maior comprometimento do Orçamento com
despesas que o governo não tem como driblar — classificadas como obrigatórias.
O aumento das despesas
obrigatórias diminui a fatia de dinheiro livre — as chamadas despesas
discricionárias — para investimento do governo em políticas públicas e obras,
por exemplo.
Além de tudo isso, o projeto
estabelece que gastos com criação ou prorrogação de benefícios da seguridade
social terão de estar limitados a um crescimento entre 0,6% e 2,5% acima da
inflação — as regras do chamado arcabouço fiscal.
Derrubada do DPVAT
Os parlamentares revogaram a
recriação do DPVAT — agora batizado de Seguro Obrigatório para Proteção de
Vítimas de Acidente de Trânsito (SPVAT).
O ministro das Relações
Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu nesta quinta com o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e líderes, antes da votação.
Segundo Padilha, o governo
concordou com o cancelamento do DPVAT porque governos estaduais alegaram que
não fariam a cobrança. Então, desta forma, não haveria "receita
garantida" do seguro.
Na Câmara, a
derrubada do novo DPVAT foi um dos principais embates entre deputados ao longo
da noite de terça (17) e da tarde desta quarta (18).
????A medida havia sido incluída e,
posteriormente, retirada do parecer de Átila Lira (PP-PI), o que levou
deputados da oposição a acusarem lideranças do Palácio do Planalto de quebrar
acordos.
O DPVAT havia sido extinto no
governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Neste ano, depois de
mobilização da equipe econômica do Planalto, o Congresso aprovou — e o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou — a volta do seguro
obrigatório.
Pela lei atualmente em vigor, o
novo DPVAT seria cobrado a partir de janeiro de 2025. Se a proposta for
confirmada pelos senadores e sancionada por Lula, não haverá a volta da
cobrança.
Quando defendeu a volta do DPVAT,
o governo argumentou que O SPVAT precisava recompor o fundo que atende pessoas
feridas no trânsito. Todos os motoristas pagam uma taxa para manter DPVAT.
Fundos para reduzir dívida
Entre 2025 e 2030, o projeto
prevê, ainda, que o governo poderá abater a dívida pública com os saldos
positivos — o chamado superávit — de cinco fundos nacionais.
De acordo com o Tesouro Nacional,
em 2023, o superávit desses fundos foi de R$ 18 bilhões.
Na lista, estão fundos utilizados
para financiar despesas médicas das Forças Armadas, e o Fundo de Defesa dos
Direitos Difusos (FDD), abastecido com recursos de decisões judiciais.
Veja a seguir os fundos e o
superávit apurado em 2023, segundo o Tesouro:
Fundo de Defesa dos Direitos
Difusos (FDD): R$ 2 bilhões
Fundo Nacional de Segurança e
Educação de Trânsito (Funset): R$ 1,6 bilhão
Fundo do Exército: R$ 2,5 bilhões
Fundo Aeronáutico: R$ 8,7 bilhões
Fundo Naval: R$ 3 bilhões
Congelamento de emendas
A proposta também amplia o poder
do governo para congelar o pagamento de emendas parlamentares, quando houver
resultado negativo na economia.
O texto original previa que essa
medida seria aplicada a todas as emendas. Na noite desta quarta, por acordo, o
governo apresentou uma sugestão de mudança — aprovada pelos deputados — para
limitar o congelamento a emendas não impositivas, que o governo não tem
obrigação de pagar.
Pelo texto, o Executivo poderá
bloquear ou contingenciar essa categoria de recursos, seguindo a proporção de
congelamento de outras despesas discricionárias e prioridades elencadas pelo
próprio Congresso.
O congelamento poderá alcançar
até 15% do valor total previsto para emendas no Orçamento.
????bloqueio orçamentário ocorre quando as
despesas ultrapassam o limite de gastos do arcabouço fiscal e é considerado
mais difícil de ser revertido. Já o contingenciamento ocorre quando as receitas
estão abaixo do esperado.
As emendas representam uma parte
— cada vez mais significativa — do Orçamento da União. São recursos que
deputados e senadores destinam a seus redutos eleitorais para a realização de
obras e projetos. Em 2024, o montante reservado é de cerca de R$ 52 bilhões.
No Orçamento, há um tipo de
emenda não impositiva, as de comissão. São indicadas por colegiados temáticos
no Congresso, tanto da Câmara, quanto do Senado. Somam R$15,4 bilhões em 2024.
"Só vai poder contingenciar
e bloquear as emendas não impositivas, respeitando aquilo que determina a LDO e
a Lei Orçamentária Anual que vai valer para 2025. É uma iniciativa muito
importante e a centralidade dela é a volta do cancelamento", disse o líder
do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).
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