05/07/2024 | Por: Notícias ao Minuto
(Foto divulgação internet)
(FOLHAPRESS)
- O presidente Lula (PT) vai recriar a Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos, extinta no final de 2022, no apagar das luzes do governo Jair
Bolsonaro (PL).
Essa era uma promessa de campanha do petista, que vinha sendo cobrado por
familiares de vítimas da ditadura militar (1964-85) desde que ele assumiu o seu
terceiro mandato.
A decisão de Lula será publicada no Diário Oficial da União
desta quinta-feira (4). Serão três atos: um despacho revertendo um ato anterior
de Jair Bolsonaro (PL), que acabou com a comissão, outro dispensando os
integrantes nomeados pela gestão anterior e um último indicando os novos nomes.
O presidente vai
também chancelar a escolha de quatro pessoas para integrar o novo colegiado. A
procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga vai retomar o posto de
presidente da comissão, que exerceu até o primeiro ano do governo Bolsonaro,
quando foi exonerada.
A professora
universitária Maria Cecília Oliveira Adão será a representante indicada pela
sociedade civil. Também tiveram as indicações confirmadas a deputada federal
Natália Bonavides (PT-RN) e o representante do Ministério da Defesa, Rafaelo
Abritta -que é civil e não militar.
Criada no
governo Fernando Henrique Cardoso como forma de reconhecer vítimas do regime,
localizar corpos desaparecidos e indenizar suas famílias, a comissão foi
extinta no final de 2022 por Bolsonaro, que é defensor do regime militar.
Bolsonaro também
tornou o colegiado, ao longo de seu mandato, uma trincheira de militares, que
chegaram até mesmo a revogar reconhecimentos já estabelecidos de vítimas do
regime. No final do seu governo, ele assinou um despacho dizendo que os
trabalhos da comissão estavam encerrados -mesmo havendo ainda um passivo enorme
de processos.
De acordo com integrantes do governo, o próprio presidente Lula
decidiu pelo momento da recriação da comissão. Além de esta ser uma pauta cara
para o presidente -afinal ele próprio foi preso na ditadura militar-, há um
julgamento na Corte Interamericana de Direitos Humanos marcado para a próxima
semana que jogará luz sobre o tema.
O colegiado deve
dar a terceira condenação ao Brasil pela ditadura, no caso, pela morte do
estudante Eduardo Collen Leite, mais conhecido como "Bacuri". Ele foi
preso e morto por militares em 1970, após 109 dias de tortura.
Além disso, as
vítimas da ditadura militar fazem parte da base eleitoral e sempre apoiaram o
presidente Lula.
Neste terceiro
governo, havia dois temores de aliados de Lula em retomar a criação da Comissão
de Mortos e Desaparecidos. O primeiro era quanto a uma eventual indisposição
com militares.
Após os ataques
golpistas de 8 de janeiro e o avanço das investigações contra a cúpula das
Forças Armadas, o governo tentou criar uma relação mais institucional com alas
da caserna.
Em outra frente,
há um entendimento de que o conservadorismo na sociedade e o bolsonarismo no
Congresso estão muito fortes. E, com isso, houve um cálculo político sobre atos
do governo que possam repercutir negativamente com parlamentares.
Por isso também foram suspensos os atos para marcar o
aniversário de 60 anos do golpe militar. No final de fevereiro, o presidente
foi alvo de críticas de associações de familiares de vítimas por uma declaração
sobre "tocar o país para frente", quando questionado sobre o golpe
militar.
"Eu estou
mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64", disse
Lula, em entrevista à RedeTV!.
Ele também disse
na ocasião: "É uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem
todas as informações, porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que
pode se apurar. Mas eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar
tocar esse país para frente".
Apesar da força
da oposição hoje no Congresso, auxiliares palacianos acreditam que a recriação
da comissão não enfrentará dificuldades com deputados e senadores.
O Ministério
Público Federal, em março deste ano, recomendou a reinstalação da Comissão
Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos em um prazo máximo de 60 dias.
O governo não havia respondido oficialmente ainda.
De acordo com
auxiliares palacianos, todos os pareceres de ministérios, inclusive a Defesa,
foram favoráveis à volta do colegiado.
Quando
reinstalada, os trabalhos da comissão devem dar sequência às retificações de
atestados de óbito e continuar com os trabalhos na vala clandestina de Perus,
descoberta na zona norte de São Paulo nos anos 1990.
O conjunto
encontrado em Perus é composto por 1.049 caixas com ossadas, hoje sob os
cuidados do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf) da Unifesp, que
capitaneia as pesquisas.
Quando Bolsonaro
trocou a chefia do colegiado, substituindo a procuradora por um aliado da hoje
senadora Damares Alves (Republicanos-DF), esse foi praticamente o único
trabalho que teve continuidade, porque o caso estava judicializado.
A comissão deve ainda abrir frente para novos
reconhecimentos, como de camponeses e de indígenas, até hoje não reconhecidos
individualmente como vítimas do estado.
Jornalista responsável:
Jornalista Adalmir Ferreira da Silva
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