09/11/2024 | Por: Notícias ao Minuto
(Reprodução)
O Brasil emitiu
2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2023. O número
representa queda de 12% em relação ao ano anterior, quando foram emitidas 2,6
bilhões de toneladas.
Apesar da
redução, o resultado deste ano se mantém em um patamar elevado, que coloca o
Brasil na posição de quinto maior emissor de gases estufa do mundo.
As emissões
dos países estarão em pauta na Cúpula do Clima (COP-29), que acontece em Baku,
no Azerbaijão, a partir de segunda-feira, 11, com objetivo de discutir
estratégias e financiamento para a descarbonização.
O dado foi
divulgado nesta quinta-feira, 7, pelo Sistema de Estimativas de Emissões de
Gases de Efeito Estufa (Seeg) do Observatório do Clima, rede de organizações
ambientais voltadas ao combate da mudança climática.
- Com
emissões em alta em outros setores, a queda em 24% nas emissões globais por
desmatamento foi a responsável pela redução, puxada pelo corte de emissões por
desflorestação da Amazônia em 37%, a partir da intensificação de ações de
fiscalização pelo governo federal
- À exceção
da Amazônia e do Pampa - que também registrou queda de 15% nas emissões por
desmatamento em 2023 -, porém, todos os biomas tiveram alta nesse setor, com
aumento de 86% no Pantanal, 23% das emissões no Cerrado, 11% na Caatinga e 4%
na Mata Atlântica;
O
aumento do desmatamento no Cerrado levou o Maranhão à posição de terceiro
Estado com maior emissão bruta do Brasil, entrando pela primeira vez no ranking
e ficando atrás apenas de Pará e Mato Grosso.
As mudanças
de uso da terra - de floresta para pasto, por exemplo - seguem sendo as maiores
poluidoras no País, responsáveis por 46% das emissões brutas de gases de efeito
estufa, com 1,062 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.
Todos os
outros setores geradores de emissão analisados no relatório do Seeg -
agropecuária, energia, indústria e resíduos - apresentaram aumento, o que já
era esperado com o crescimento do PIB. Na agropecuária, que totaliza 28% das
emissões brutas, a alta foi de 2,2%, chegando a 631 milhões de toneladas.
O aumento é
atribuído ao crescimento do rebanho bovino, já que a maior parte das emissões
vem do "arroto" do boi - a fermentação entérica emitiu 405 milhões de
toneladas em 2023, volume maior do que o total de emissões da Itália, por
exemplo.
Em 2023, o
número de bovinos bateu recorde desde o início da série histórica, em 1974, com
238,6 milhões de cabeças, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE.
Apesar de
ser a maior queda porcentual nas emissões desde 2009, ano que o Brasil
registrou menor emissão da série histórica iniciada em 1990, o País ainda não
retornou ao patamar anterior a 2019 - menor do que o volume de emissões atual.
Nesta edição
do relatório, um reajuste na metodologia mostrou que as emissões de 2022,
divulgadas no ano passado, haviam sido subestimadas. Com o novo cálculo, as emissões
brutas de 2022 ficaram em 2,6 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente, o
que resultou na redução de 12% das emissões de 2023 em relação ao ano anterior.
Ambição
climática
O Brasil tem
uma meta de redução de emissões a cumprir até 2025, fixada pela adesão do País
ao Acordo de Paris. A atual ambição climática, ou Contribuição Nacionalmente
Determinada (NDC, na sigla em inglês) limita a emissão máxima a 1,32 bilhões de
toneladas de CO2 equivalente até o próximo ano, quando todos os países devem apresentar
novas metas.
A cifra
corresponde ao volume de emissões líquidas, ou seja, o balanço entre tudo que o
País emite e a quantidade de CO2e capturado por atividades como reflorestamento
e práticas agrícolas sustentáveis.
Em 2023, as
emissões líquidas ficaram em 1,65 bilhão de toneladas de CO2e. Para atingir a
meta, o Brasil ainda precisa reduzir as emissões em mais de 20% em dois anos,
até o fim de 2025.
Mantendo
nesse ano e no próximo o mesmo nível de redução de 2023 em relação a 2022, é
possível conseguir alcançar a meta, segundo calcula o coordenador do
levantamento, David Tsai.
Sem
questionar a importância de continuar diminuindo o desmateo, Tsai considera que
apostar apenas na Amazônia para reduzir as emissões não é uma boa estratégia.
"A gente precisa descarbonizar todos os setores", disse ao Estadão.
Por que
queimadas não contam?
O relatório
do Seeg reporta as emissões geradas por queimadas, mas até o momento elas não
entram na conta das emissões brutas e líquidas anuais do País.
Essas
emissões são monitoradas pelo Observatório do Clima desde 2018, mas afirma
calculá-las separadamente para "manter a comparabilidade com as metas
brasileiras", uma vez que o inventário oficial de emissões do governo
federal não contabiliza as emissões por queimadas.
Os valores
são significativos: em 2023, somente as emissões por queimadas não associadas a
desmatamento chegaram a 90 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Em 2024, o
Brasil bateu recordes de incêndios florestais mesmo na Amazônia, onde a
floresta não pega fogo naturalmente e os incêndios costumam estar associados ao
desmatamento, atualmente em queda.
Na avaliação
do Observatório do Clima, o fogo tende a ser um fator cada vez mais importante
no balanço de carbono do Brasil à medida que a crise climática se agrava.
Achamos que
o governo deve passar a contabilizar essas emissões, inclusive porque é uma
recomendação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas)", afirmou o coordenador do Seeg David Tsai.
Neste ano, o
OC monitorou pela primeira vez as emissões de metano e de óxido nitroso por
queima de pastagens. Os dois são gases mais potentes no aquecimento do planeta
do que o CO2.
Jornalista responsável:
Jornalista Adalmir Ferreira da Silva
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