A decisão de transformar o antigo Centro de Turismo de Nova Friburgo — que se encontrava fechado,  conforme inúmeras matérias  cobrando sua reabertura — em base para o programa Segurança Presente, da Polícia Militar, vem levantando diversos questionamentos e provocando críticas de vários setores e representantes da sociedade civil. 

A Acianf reforça seu compromisso em trabalhar junto à comunidade e às autoridades para garantir que o Centro de Turismo Edmo Zarife seja mantido e valorizado

A mudança para um espaço anexo à Praça das Colônias, no Suspiro, conforme decisão da prefeitura, é questionada pela população, que, em parte, não concorda com a decisão do governo municipal de ceder o Centro de Turismo para esse programa.

Por décadas, o Centro de Informações Turísticas, localizado junto ao chafariz da Praça Dermeval Barbosa Moreira, foi um ponto vital de recepção e informação para visitantes e residentes, desempenhando um papel crucial na promoção e no acolhimento do turismo local, além de ser local para cerimônias e atividades culturais. 

recebido diariamente manifestações de leitores contrários à instalação do programa da PM num espaço já tradicionalmente dedicado a promover a cidade. Como o advogado Jorge Gonçalves, policial civil aposentado — com muitos anos de atuação na área e agora morador de Lumiar — que argumentou:

“Fui surpreendido com a atual destinação dada ao Centro Turístico, um local tão importante para o turismo e a cultura de Nova Friburgo, estar sendo desconstruído de sua identidade e finalidade para a implantação de um posto de segurança. O projeto Segurança Presente foi para a Segurança Pública algo muito importante nos bairros, exatamente por recriar a ideia de duplas de policiais fixos em pontos estratégicos e de incidência criminal, remunerando policiais em suas horas extras, mas fica a resignação. Se o cerne desse projeto é exatamente policiais em dupla na rua, de moto e até carros em pontos estratégicos, para que ter uma base fixa subtraindo da população um local nobre para o turismo, se temos um batalhão de Polícia Militar com tanta área que poderia ser destinada a esse baseamento, e no local bastaria uma viatura. Vamos destruir um patrimônio sem uma justificativa lógica e prática. Não é estar contra a implantação do projeto, mas evitar que se tomem medidas administrativas irracionais.”

A questão urbanística

Na opinião de alguns urbanistas e arquitetos, a transformação do antigo Centro de Turismo em uma base do programa Segurança Presente “é uma escolha que evidencia uma falta de consideração pelos conceitos fundamentais de urbanismo. A falta de uma visão holística na readequação do espaço é alarmante.

Profissionais de urbanismo e arquitetura que pensam nas cidades de forma integrada sabem que cada mudança no uso do espaço deve considerar não apenas o benefício imediato, mas também os impactos a longo prazo no tecido urbano e na experiência dos cidadãos”, ressaltam.

“O antigo Centro de Turismo não é apenas um edifício; ele é um ponto de referência cultural e um símbolo do acolhimento de Nova Friburgo. Transformá-lo em uma base policial pode parecer uma solução prática para questões de segurança, mas desconsidera o impacto negativo na atração turística e no caráter histórico da região. É uma medida que não apenas ignora o valor cultural do local, mas também compromete a experiência dos visitantes e a função histórica do espaço.

A dinâmica da constante readequação urbanística das cidades só gera resultados positivos para as pessoas quando realizados por profissionais arquitetos urbanistas que pensam na cidade de forma holística. A transformação do centro de turismo, localizado no coração do nosso centro histórico, em base do programa Segurança Presente é mais uma aberração que demonstra total ignorância dos conceitos urbanísticos. Onde estão as instituições representativas da sociedade civil? Todos estão omissos”, observou o engenheiro Ivison Macedo.

Pela preservação de obra no Centro

Para a diretora da Aliança Francesa, de Nova Friburgo, Annette Bordage Bessa, “a sua destruição seria um crime cultural”, referindo-se ao espaço, onde a instituição de ensino inaugurou um painel, em dezembro de 2018. “Criada em azulejos por jovens de escolas públicas, a obra é baseada na arte urbana projetada em muros de várias cidades do mundo, sendo que no Brasil já foram feitas obras em São Paulo, Rio de Janeiro e em Brasília”, revelou.

O painel é ilustrado com os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “e desenhos criados  pelos alunos do intercâmbio linguístico que foram comigo à Suíça. Lá, eles trabalharam em dupla com os jovens estudantes suíços, para interpretar os artigos da Declaração. O mesmo trabalho foi também produzido com os jovens do nosso Coral Infanto-Juvenil aqui de Nova Friburgo, todos pintaram seus desenhos nos azulejos que estão hoje no painel do Centro de Turismo”, ressaltou Annette. 

O evento de inauguração da obra, há quase 6 anos, contou com a participação dos alunos e professores da Aliança, dos jovens do Coral, da Euterpe Friburguense, de Philippe Nothomb, da Associação Inscrire, de Rudolf Weiss, cônsul da Suíça, no Rio de Janeiro, de Jean Paul Guilhaumé, cônsul da França, de Marie Claude Hees, presidente da Associação da Aliança Francesa e representantes da Prefeitura de Nova Friburgo em 2018.

A presidente da Associação de Cultura Franco-Brasileira de Nova Friburgo (Alliance Française), Marie Claude Hees, comentou: “A leitura das reportagens neste conceituado jornal A Voz da Serra, publicadas nesta última semana sobre o futuro do Centro de Turismo, me preocupou muito pois existe lá um painel de azulejos sobre Direitos Humanos. 

Criada na época da queda do Muro de Berlim pela artista Françoise Schein, a Association Inscrire visa criar obras artísticas que destaquem os princípios dos direitos humanos e a diversidade cultural, estimulando discussão e reflexão sobre ambos. Ao longo de três décadas, os murais da Association foram ganhando as principais cidades do mundo como Paris, Bruxelas, Ramallah, Nova York, Porto Príncipe e Rio de Janeiro.

No especial ano de 2018, quando comemoramos os 200 anos da fundação de Nova Friburgo, os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os 40 anos da Aliança Francesa em Nova Friburgo, a Association Inscrire trabalhou o tema junto com crianças e jovens da Aliança Francesa de Nova Friburgo e do Lycée Sainte Croix de Fribourg (Suíça), expressando, assim, a ideia de troca e partilha entre povos e culturas diferentes.

A Praça Dermeval Barbosa Moreira é um ponto de encontro da população local e dos turistas para o lazer e eventos, palco de apresentação de dança, teatro de rua, eventos, carnaval, com vista privilegiada da fachada da Igreja de São João Batista. O obelisco do centenário e o monumento do bicentenário de Nova Friburgo junto com o Centro de Turismo, foram escolhidos para lá ficarem e acolherem os turistas. Como transformá-la em mais um centro de segurança, com carros de polícia na calçada com uso inadequado do espaço?!