01/07/2024 | Por: Notícias ao Minuto
(Rádio Senado)
(FOLHAPRESS) - O PL e o PT se aliaram
a lideranças da Baixada Fluminense para reproduzir, no reduto bolsonarista do Rio
de Janeiro, a polarização nacional nas eleições municipais deste ano.
O partido do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) abriu espaço para parentes de lideranças políticas da região nas
chapas para prefeito. A sigla do presidente Lula, por sua vez, resgatou antigos
caciques para tentar frear o avanço bolsonarista na Baixada.
A região de 13 municípios com 2,9
milhões de eleitores é vista como termômetro do avanço do bolsonarismo no Rio
de Janeiro. É uma das mais violentas do estado e com forte penetração de
igrejas evangélicas.
O ex-presidente venceu em todas as
cidades da região com cerca de 60% dos votos válidos. O PL pretende ampliar
essa vantagem, enquanto o PT busca contê-la.
"O Rio de Janeiro é o berço do
bolsonarismo, não só em termos cronológicos, mas também de conteúdo. É muito
presente nele a pauta da segurança pública ligada ao punitivismo. O cotidiano
violento do Rio e da Baixada Fluminense, em particular, cria um espaço que
permite a proliferação de um discurso de combate à violência com mais violência",
diz a cientista política Mayra Goulart, coordenadora do Laboratório de
Partidos, Eleições e Política Comparada da UFRRJ (Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro), que estuda as relações políticas da região.
A relevância das eleições na Baixada
se amplia em razão da projeção política conquistada pelas lideranças com base
eleitoral na região, que têm estendido seu poder de influência por todo o
estado. A principal delas é o deputado federal Doutor Luizinho, líder do PP na
Câmara e mencionado como uma das opções para a sucessão do deputado Arthur Lira
(PP) no comando da Casa.
Luizinho tem buscado manter
equidistância de Bolsonaro e Lula nas eleições municipais em todo o estado,
justamente para evitar rusgas com os dois principais partidos do Congresso. Na
capital, por exemplo, optou por lançar o deputado Marcelo Queiroz (PP) para
evitar uma aliança com o prefeito Eduardo Paes (PSD) ou com o deputado federal
Alexandre Ramagem (PL).
Em sua base eleitoral, porém,
Luizinho se aliou ao PL. A irmã do deputado, Roberta Teixeira, se filiou à
sigla do ex-presidente e será vice do pré-candidato Dudu Reina (PP), presidente
da Câmara Municipal de Nova Iguaçu.
"Roberta é uma menina genial.
Fez direito na Uerj, uma das primeiras colocadas na Emerj [Escola de
Magistratura], e, agora, cursando medicina. Fui contra sua entrada na política
enquanto não acabasse o curso, mas é da vontade dela desde a eleição de 2020
quando fez parte do [grupo] RenovaBR", diz o deputado.
A base bolsonarista também conseguiu
atrair um aliado de Lula para a chapa em Duque de Caxias. O deputado Aureo
Ribeiro (Solidariedade) emplacou a mulher, Aline Ribeiro, como vice na chapa de
Netinho Reis (MDB), sobrinho de Washington Reis (MDB), forte aliado de
Bolsonaro na Baixada.
Na cidade, que tem o maior eleitorado
da região, o PT decidiu promover a volta do ex-prefeito José Camilo Zito por
meio do PV. A decisão contrariou Aureo, que liderou o blocão na Câmara até
meados de junho.
"Lula é de muito diálogo, muita
escuta. Só que o PT atrapalha. Ajudei muito o Lula na Baixada. Mas agora
inventa de pegar outra candidatura em Caxias. Como se fosse voltar a um passado
que não funcionou. Esse erro é no Rio de Janeiro em todas as cidades",
afirma o deputado do Solidariedade.
O PT decidiu não apoiar o clã Reis em
razão de seu forte endosso a Bolsonaro. A relação política se aprofundou no episódio
da suposta fraude no cartão de vacina do ex-presidente, ocorrida na cidade,
segundo a Polícia Federal.
A estratégia petista tem sido resgatar antigas lideranças nas cidades em que
não há opções distantes do bolsonarismo. Foi o caso de Zito.
"O objetivo é solidificar em
cada cidade um bloco de apoio ao presidente Lula para 2026. Também depende das
relações dentro de cada município", afirma João Maurício, presidente do
PT-RJ.
A mesma estratégia foi adotada em
Nilópolis, onde o PT filiou para a disputa o ex-prefeito Sérgio Sessim, filho
do ex-deputado pelo PP Simão Sessim. O adversário será o prefeito Abraão David
Neto (PL), o Abraãozinho, num raro racha entre nomes ligados à escola de samba
Beija-Flor, que sempre se reuniram no PP, do centrão.
Em Magé, o PT vai aderir ao prefeito
Renato Cozzolino (PP), cuja família domina a política local há décadas.
A estratégia visa ampliar a aliança
feita com o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (Republicanos), cuja mulher, a
deputada federal Daniela Carneiro, chegou a ocupar o Ministério do Turismo. Ela
foi mantida mesmo após a divulgação da relação de seu grupo político com
milicianos.
Nas eleições deste ano, o PT vai
apoiar Matheus do Waguinho (Republicanos), sobrinho do prefeito. O PL vai se
aliar ao deputado Márcio Canella (União Brasil), que rompeu com o atual
mandatário.
A eleição presidencial de 2022 foi a
primeira em que o PT ganhou sem ter maioria no Rio de Janeiro, onde Bolsonaro
venceu com 56,5% dos votos válidos, puxados pelo resultado na Baixada.
"Lula e Dilma sempre tiveram
boas votações na Baixada. O resultado em 2022 [na região] se deveu à
desinformação, fake news por meio de algumas igrejas. Tenho certeza de que a
partir dessas alianças e das ações do governo Lula isso vai mudar", diz
João Maurício.
O secretário do PL-RJ, Bruno Bonetti,
afirma que a Baixada deu uma "vitória esmagadora para Bolsonaro em
2022" e que o PL vai retribuir os apoios que teve "para manter essa
predominância".BAIXADA FLUMINENSE, EM
NÚMEROS ELEITORAIS
13 municípios
2,9 milhões de eleitores
22,3% do eleitorado do Estado do Rio de Janeiro, de 13 milhões
60,5% dos votos válidos no segundo turno em 2022 foram para o ex-presidente
Jair Bolsonaro
58,3% x 41,7% foi a menor diferença entre Bolsonaro x Lula, em Duque de Caxias
64,3% x 35,7% foi a maior diferença entre Bolsonaro x Lula , em Itaguaí
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