12/07/2024 | Por: Notícias ao Minuto
Bolsonaro e seu filho o senador Flávio Bolsonaro (Foto divulgação internet)
A Polícia
Federal abriu nesta quinta-feira, 11, nova etapa da operação que mira o uso da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em esquema de espionagem no governo
passado e prendeu quatro suspeitos de atuarem na "criação de perfis falsos
e divulgação de informações falsas" sobre pessoas consideradas adversárias
do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo a PF, foram monitorados de forma
ilegal ministros do Supremo Tribunal Federal, parlamentares, servidores
públicos e jornalistas. A corporação também disse ter identificado áudio de
reunião em que Bolsonaro articula com o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem a
blindagem do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no inquérito da
"rachadinha".
Conforme relatório da PF, a gravação
do encontro em que Bolsonaro atuou para proteger Flávio teve a presença do
ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do
Rio, do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto
Heleno, e de uma advogada do filho do ex-presidente. O áudio remonta a uma
reunião realizada em agosto de 2020 e cita auditores da Receita responsáveis
pelo relatório de inteligência fiscal que baseou a investigação sobre
"rachadinha" que implicou Flávio, revelado pelo Estadão em 2018.
O senador negou ter tido contato com integrantes da Abin.
Segundo o documento da PF, Ramagem
diz, no áudio, que "seria necessária a instauração de um procedimento
administrativo contra os auditores da Receita, com o objetivo de anular a
investigação, bem como a retirada de alguns auditores de seus respectivos
cargos". O áudio tem mais de uma hora de duração. A reunião teria sido
gravada pelo próprio Ramagem, que, na ocasião, defendeu o monitoramento
"urgente" dos auditores para descobrir "podres" dos servidores,
registrou a PF. O levantamento ilegal deveria ser "jogado num word",
o que, segundo os investigadores, indica o caráter clandestino da ação.
A PF afirmou que encontrou diálogos
em que os ex-funcionários do Centro de Inteligência Nacional da Abin Marcelo
Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues - dois dos presos ontem - tratam
das pesquisas envolvendo as auditores da Receita. As informações foram
repassadas a Ramagem em dezembro de 2020. A dupla também discutiu um dossiê
sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, conforme a
PF. Em um dos diálogos citados pelo órgão, eles dizem que o magistrado
"está merecendo algo a mais" e escrevem "headshot" (tiro na
cabeça).
Foram detidos preventivamente ontem,
além de Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues, ex-auxiliares de Ramagem na
Abin, Richards Pozzer e Mateus de Carvalho Spósito, apontados como integrantes
do "gabinete do ódio", grupo que usava as redes sociais para
disseminar desinformação e atacar desafetos de Bolsonaro. Um quinto mandado de
prisão, contra Rogério Beraldo de Almeida, também suspeito de propagar fake
news com base em informações fornecidas pela "Abin paralela", não
havia sido cumprido até a noite de ontem. Dois ex-servidores da Presidência,
José Matheus Sales Gomes e Daniel Ribeiro Lemos, foram alvo de buscas.
Autoridades
O relatório da PF afirma que o grupo
investigado espionou os ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli,
Luís Roberto Barroso (atual presidente da Corte) e Luiz Fux, além dos deputados
Arthur Lira (PP-AL), atual presidente da Câmara, e Kim Kataguiri (União
Brasil-SP), o ex-presidente da Casa Rodrigo Maia e a ex-deputada Joice
Hasselmann. A lista de senadores monitorados inclui Alessandro Vieira (MDB-SE),
Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (sem
partido-AP). O documento também cita o ex-governador de São Paulo João Doria e
servidores do Ibama e da Receita Federal.
De acordo com a PF, a organização sob
suspeita "também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia
e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes
públicos". A investigação apura suspeita de crimes de organização
criminosa, tentativa de abolição do estado democrático de direito,
interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático
alheio.
"Assusta imaginar que Alexandre
Ramagem, então servidor público, hoje deputado federal, comandou um esquema de
monitoramento de pessoas. Tomarei todas as medidas legais cabíveis contra ele e
os outros envolvidos nas esferas cível e criminal", declarou Rodrigo Maia.
As demais autoridades não haviam se posicionado até a publicação deste texto.
Etapas
A primeira fase da Operação Última
Milha foi deflagrada em setembro de 2023, quando a PF prendeu dois servidores
da Abin que, de acordo com os investigadores, usaram indevidamente o sistema de
geolocalização de celulares da agência. Na ocasião, a sede da Abin foi alvo de
buscas.
Em janeiro, a investigação se
desdobrou na Operação Vigilância Aproximada, que mirou, além de Ramagem, o
vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). Nesta etapa, a PF disse acreditar que a
estrutura da Abin foi usada para produzir informações que teriam ajudado na
defesa dos filhos de Bolsonaro em investigações.
'Curioso'
O Estadão procurou as defesas dos
investigados. O advogado de Richards Pozzer, Jeffrey Chiquini, afirmou que seu
cliente é "um cidadão comum, engenheiro, casado, pai de família", que
pesquisava o nome de pessoas públicas em portais de transparência,
"exercendo o direito de cidadania na fiscalização do serviço público,
moralidade e probidade da administração pública". O defensor disse que
Pozzer é apenas "um curioso" e que a prisão tem motivação política.
As defesas dos outros citados não
haviam se manifestado até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
Senador diz que nunca manteve contato
com integrantes da agência
Procurado pela reportagem, o senador
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que nunca manteve contato com integrantes da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "Simplesmente não existia
nenhuma relação minha com a Abin. Minha defesa atacava questões processuais (da
investigação sobre rachadinha), portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse
ter", declarou o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O parlamentar também criticou a
operação de ontem deflagrada pela Polícia Federal. "A divulgação desse
tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de
prejudicar a candidatura de Alexandre Ramagem à prefeitura do Rio de
Janeiro", disse o senador. Pré-candidato na disputa municipal deste ano
com apoio da família Bolsonaro, Ramagem não foi alvo da ofensiva de ontem. O
ex-diretor da Abin teve endereços vasculhados na segunda etapa da operação,
realizada em janeiro deste ano. O deputado comandou a Abin entre os anos de
2019 e 2022.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, por
meio do advogado Fabio Wajngarten, disse não ter tido acesso à gravação da
reunião citada no relatório da PF e afirmou que o áudio não apareceu até o
momento. Procurados ontem, Ramagem e o general Augusto Heleno não se manifestaram.
Jornalista responsável:
Jornalista Adalmir Ferreira da Silva
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