Rio - Um intenso confronto assustou moradores do Andaraí e do Grajaú, na Zona Norte, na manhã desta quinta-feira (24). Segundo relatos, os tiros provocaram momentos de terror em diversas ruas dos bairros. Na região do Morro do Andaraí, policiais civis realizam operação contra furto de cabos. Até o momento, cinco pessoas foram presas.
Nas redes sociais, relatos apontam para um clima de tensão na região. Em meio ao fogo cruzado, quem mora no local contou não conseguir sair de casa. Uma moradora disse ainda ter tido a janela do seu quarto atingida por um disparo.
"Loucura! Nunca vi nada igual. De onde vem tanto tiro? Parece que estamos em guerra", afirmou um comentário. "Eu acordei com esse tiroteio assustador", disse outro.
"Minha filha, está presa em casa, iria à faculdade, mas são muitos tiros", relatou mais um. "Acordei com o tiroteio parecia ser dentro do meu quarto", acrescentou um vizinho.
No Andaraí os comentários não são diferentes. "Acabou o feriado e os meninos voltaram com tudo. 6h da manhã e a bala cantando no Andaraí", contou uma moradora. "Uns tem galo cantando, outros sinos da igreja, mas aqui no Andaraí nós temos tiro como despertador. Um lindo dia para uma guerra de facção", ironizou outra.
Policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), com apoio da Polícia Civil do Paraná, realizam uma operação voltada à desarticulação de uma organização criminosa altamente estruturada, especializada na prática reiterada de furtos de cabos em grande escala, pertencentes a concessionárias de serviços públicos. O material é posteriormemte receptado por ferros-velhos e metalúrgicas. A quadrilha ainda pratica lavagem de dinheiro por meio de empresas reais e fictícias e contratos simulados.
A ação dá início à segunda fase da "Operação Caminhos do Cobre". O objetivo é o cumprimento de 46 mandados de busca e apreensão, incluindo residências dos alvos, sete ferros-velhos e metalúrgicas nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Há ainda mandados de prisão preventiva expedidos contra integrantes da organização criminosa, inclusive da cúpula, e o pedido judicial de bloqueio de até R$ 200 milhões em contas bancárias e ativos financeiros, além do sequestro e indisponibilidade de bens e imóveis.
As investigações, que levaram à denuncia de 22 integrantes do grupo, revelaram um sofisticado esquema criminoso, baseado no furto de cabos de telecomunicações e energia elétrica, com posterior recolhimento do material por empresas de reciclagem ligadas aos próprios líderes da organização e lavagem dos lucros ilícitos por meio de transações bancárias fracionadas, aquisição de veículos de luxo, emissão de notas fiscais falsas e simulação de contratos com empresas reais. A quadrilha atuava realizando fraude documental e disfarce operacional, ação furtiva com vigilância armada.
Os furtos ocorriam durante a madrugada, com batedores armados em motocicletas, ligados ao tráfico de drogas, garantindo a evasão e a proteção da operação. Os criminosos amarravam os cabos aos caminhões, puxando-os com força, causando danos estruturais severos às estações subterrâneas.
Os cabos furtados eram transportados para galpões e ferros-velhos em Queimados, Baixada Fluminense; no Morro do Fallet, Centro do Rio; e no Complexo do Salgueiro, São Gonçalo — todos de propriedade dos líderes da organização, situados em territórios dominados por facções criminosas. O grupo dividia o percentual do faturamento com os traficantes locais, garantindo a proteção do território. Nos depósitos, os cabos eram decapados, fracionados e queimados para eliminar vestígios de origem, e revendidos a ferros-velhos e metalúrgicas no Rio de Janeiro e, principalemente, em São Paulo, com apoio de intermediadores.
Parte dos pagamentos era feita com veículos de luxo, e outra era lavada por meio de empresas ligadas ao núcleo de comando, nos ramos de alimentos e comunicação, com emissão de notas fiscais falsas, anúnicos e propraganda de clientes fictícios.
Segundo apurado, o líder do grupo era também o elo com o tráfico do Fallet. Atuava como contador da facção, controlando repasses, fluxo financeiro e lavagem via empresas reais. O homem foi preso pela Polícia Civil do Paraná por ser o elo entre fornecedores de drogas daquele estado e traficantes de drogas do Rio.
A mulher dele assumiu a liderança após sua prisão, comandando pagamentos, lavagem, contratos simulados e gerenciamento de empresas.
Outros integrantes do núcleo central do grupo incluíam organizadores de equipes e contato com batedores armados, um grande receptador e responsáveis pela movimentação do material ilícito.